Há tempos que quero escrever sobre esse título – Produtos ou Pessoas nas Prateleiras – e ele me veio à cabeça em uma das conversas que tive com uma gestora de marketing de um laboratório farmacêutico com a qual, trabalhei por uns anos. Ela me dizia que, se alguém naquela organização quisesse ganhar visibilidade e assim, conseguir chegar à tão sonhada posição – ela se referia a promoções – deveria adicionar mais tarefas às suas funções e que, nada estaria disposto em “prateleiras” – ela queria dizer que as possibilidades de desenvolvimento não estariam arranjadas de modo que, quem as ambicionasse, bastaria esticar os braços para então, alcança-las.
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Não mesmo. Esse time enxuto porém campeão, se deu por meio do comportamento visionário de sua Managing Director, que acredita ter uma equipe composta por pessoas de variadas aptidões e estimula que todas, sem exceção, sejam apresentadas de maneira oportuna. Ela sabe que tem consigo pessoas de múltiplos talentos. Bola de Cristal? Sensibilidade? Sorte? Não – Liderança.
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Vamos nomear alguns dos benefícios em dar ao time espaço e estimular a participação de todos? Começo por menor dependência externa, uma vez que se trata de um time autossuficiente. Criatividade e colaboração, o que propicia a disseminação do conhecimento. Um time motivado e com sentimento de pertencimento e bem-estar, e por conseguinte, olhando para o negócio com o “olhar de dono”. Esse olhar que busca incessantemente por soluções e se essas são encontradas, são apresentadas aos clientes com encantamento, o que fideliza. E passaríamos longos minutos discorrendo pelas consequências positivas em incentivar que os colaboradores ganhem visibilidade, se apresentem, ousem, participem. Que lindo de ver!
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Entretanto, senhores, a realidade, infelizmente, ainda é diferente desta ilustrada acima. Não são os produtos de desenvolvimento que vejo, ou não, nas prateleiras. Vejo pessoas. E não somente nas prateleiras como artigos de decoração meramente passivos mas, ainda pior, vejo pessoas na geladeira.
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Não acreditar em seus colaboradores é algo sério. Porém, não confiar que eles sejam capazes é sinônimo de prejuízo. Perda de tempo, e já sabendo que o tempo é um recurso caro e irreparável, portanto, inegociável, e de valores – no mais amplo sentido que esse substantivo nos represente. Pensemos em acreditar e confiar por verbos parecidos com significados diferentes: confiar envolve fé, proteção, responsabilidades, confiança ou cuidados. Entregar pessoa ou coisa a alguém na certeza de que será bem cuidada; entregar-se sem receio. Acreditar é crer, admitir como verdadeiro; aceitar como real; convencer-se da existência de alguma coisa. Fazer suposições.
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Escrevendo esse artigo pensei numa história que li em umas das minhas “surfadas” nas redes sociais, que contava um episódio no qual, a credibilidade era posta a prova e nos exemplifica a diferença entre acreditar e confiar, ou vice-versa.
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“Um grande e famoso equilibrista decidiu atravessar de um prédio ao outro, sobre uma corda, pilotando uma bicicleta e levando na garupa a sua esposa. Logo a imprensa noticiou, foram cartazes espalhados, não se falava em outra coisa pela cidade. No dia marcado a cidade inteira parecia estar presente, disputando cada ponto ao redor do acontecimento.
A corda balançava ao vento…
A imprensa se posicionou em lugares estratégicos, e o equilibrista finalmente chegou com seu aparato para realizar a façanha.
O silêncio só era quebrado quando o homem, açoitado pelo vento, balançava perigosamente sobre o abismo entre os prédios, dava uma parada e prosseguia para seu destino…
Quando finalmente o equilibrista chegou no outro prédio todos aplaudiram.
Foi quando um gaiato da imprensa, querendo se destacar diante dos seus colegas, disse ao homem:
– Eu sabia que você conseguiria, nunca duvidei, afinal você é o melhor equilibrista do mundo!
O equilibrista questionou:
– Quer dizer que você sabia que eu conseguiria?
– Claro, não tinha a menor dúvida.
– Então você acredita que se eu tentar voltar agora eu conseguirei novamente?
– Lógico!
O equilibrista sorriu e disse:
– Você acredita em mim mais do que eu mesmo. Diante disso, sou obrigado a pedir pra que minha esposa desça da garupa e que você suba para fazermos o caminho de volta…
O jornalista pálido de medo e vergonha desconversou e sumiu em meio aos seus colegas…”
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E como associei as pessoas colocadas na geladeira, ou na prateleira, ou onde quer que estejam que não atuando e se expressando nas organizações? Me toca profundamente, ouvir em meus encontros de desenvolvimento de carreira com gestores e fortes nomes do mundo corporativo, que sentem-se alienados ao negócio. Percebem-se diminuídos ou invalidados nas suas colocações. Uma vez, ouvi de um gestor de pessoas que ele era “um diretor de escrivaninha” – mal eu sabia que era um outro lugar semelhante à prateleira ou geladeira – ele continuou me explicando que sim, o “título” era dele mas que não cabia a ele tomar decisão alguma e tampouco tinha autonomia e que, inclusive, se reportava aos seus pares. Sua autoestima e autoconfiança estavam minadas. Não havia um pingo de motivação na sua fala e esse homem fazia um esforço excepcional para não transparecer esse sentimento à sua equipe. Pobre homem, tanto esforço em vão.
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A organização, ao me contratar, ressaltava áreas decisivas como focos de atenção para o negócio, entre elas: marketing, finanças, operação, logística e tecnologia da informação, acrescidas ao pacote do planejamento financeiro com o intuito de não cometerem erros – hard skills, hard work. Muita coisa para inglês ver – todavia, inteligência emocional na tratativa com o seu cliente interno, a capacidade de se transformar numa estrutura que favoreça a exposição de ideias, a criatividade, a tolerância e sabedoria de lidar com o erro – numa cultura do erro – a diversidade humana e cultural, e a segurança que uma liderança humanista e estratégica demanda, a-há, poucas organizações, na prática, têm. E nessa específica, me respondam vocês – acreditam que sim ou não tem?
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Seguimos, portanto, disponibilizando pessoas nas prateleiras para que outras organizações, devidamente, as levem. Que façam bom uso dos seus talentos, que os deixem atuar e assim, construir a história de um time de sucesso como o que iniciei esse post!
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Bom Dia do Trabalho, bom feriado e na medida do possível, fiquemos em casa.
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Priscilla Freund
Psicóloga Sistêmica e Coach Executiva