E se eu quiser fazer diferente?!
Algumas das histórias que vivemos nos foram orientadas através das trocas entre as gerações. Não sendo estáticas, tampouco rotuladoras, mas, digamos, um modelo já experimentado e repetido por alguns membros de uma família e que, sem nos darmos conta, repetimos.
Casos de divórcios, homens dominadores e mulheres submissas e vice-versa, construção de impérios seguido por perdas de fortunas, doenças que se repetem, opções de sexualidade, vícios, histórias de mudanças de cidades ou países, adoções, perdas de crianças, espontaneamente ou não, abusos, violência doméstica, habilidades e competências de trabalho, enfim, histórias passadas de geração em geração ditando silenciosamente o modelo funcional das famílias.
Estudos nos mostram, inclusive, que alguns distúrbios emocionais vêm mais de um processo evolutivo tendo origens mais profundas nas histórias de famílias do que, propriamente, um padrão relacional definível com precisão. O mesmo, acontece com famílias percebidas como “normais” – sendo, portanto, a nossa maneira de nos expressarmos, um produto das relações basais familiares.
No meu consultório ou em empresas atuando com executivos em desenvolvimento, gosto e peço que me contem as histórias de família – desde os bisavós, origem, história do nome, como as relações se estabeleceram, quem casou com quem e como viveram, se tiveram filhos ou não, e se não tiveram qual foi a razão, quem é esse ou aquele primo e como vive, o que aconteceu com a tia X e o tio Y. Quem morreu do quê, quando se mudaram e com o quê trabalharam, como se deram as carreiras, se falavam idiomas. Tudo, tudo me interessa. Tudo nos interessa. E vou junto, em uma folha de papel desenhando as histórias e pontuando semelhanças. Pergunto se algo lhes fazem sentido ou o que pensam a respeito disso ou daquilo…Ah, que exercício maravilhoso!
Com essa atividade que, carinhosamente chamo por “Biografia do Executivo”, proponho uma diferenciação da massa indiferenciada do ego familiar na tentativa de conseguirmos independência e maturidade sem, naturalmente, perder a capacidade da reconexão emocional livre com a família.
Posso afirmar que após esse exercício, inicia um processo de diferenciação, a percepção da singularidade apesar de viver em um sistema integrado a muitos outros. Laços são fortemente reforçados por meio da identificação, ou, afrouxados a ponto de permitir “respirar” com liberdade. Deixando para trás histórias que serão lembradas mas não precisam ser revividas.
Tomando cada qual seu rumo e se reencontrando com suavidade.
Bom dia!