Quando olhamos um bowl cheio de pipoca, qual é o nosso primeiro pensamento? Acredito que seja de uma grande satisfação e alegria porque em poucos minutos iremos nos deliciar com esta guloseima que agrada a crianças e adultos, não importando se é doce ou salgada.
Para alguns os olhos brilham, outros salivam, e outros tantos providenciam bebidas e acompanhamentos. Tenho sempre a impressão de que pipoca é sinônimo de festa, de confraternização, de retorno aos sabores da nossa infância, de expectativas tomando forma.
E foi praticando o meu ritual de “fazer pipoca” que, neste último final de semana, me peguei refletindo sobre satisfação e insatisfação, exatamente a partir do momento em que vi os grãos de milho estourando na minha pipoqueira, e ao final, me perguntei o por que de alguns não terem estourado.
Será que só eu sou assim? Alguém mais já parou, após a pipoca estar pronta, olhou os milhos que não estouraram e pensou: “ainda faltam estes grãos!” ou “por que estes não vivaram pipoca?”
Este pensamento de não suficiência, de escassez, é bastante comum em nosso dia a dia. Inclusive tem sido um grande responsável por angústias que já tornaram-se crônicas. Ele nos impede de reconhecer o que já temos, de considerar positivamente os nossos esforços diante dos desafios que enfrentamos, sejam eles pequenos ou grandes, e de perceber a nossa evolução na vida.
Somos ensinados desde criança a pensarmos muito no que nos falta. A cultura na qual estamos inseridos, principalmente através da mídia em geral, nos impõe a falsa ideia de que você precisa sempre de mais para viver bem. E quanto é este mais? Eu não sei dizer. A cada um cabe a sua própria mensuração.
O sentimento de falta ou privação, bem como o de uma certa inadequação no mundo, permeia a nossa história nos âmbitos familiar, afetivo, acadêmico, profissional, financeiro, amoroso, entre outros. É constante a sensação de que não somos, não fizemos, não recebemos e não sabemos o suficiente, e por isso precisamos de mais.
Claro que aqui não desconsidero a escassez real, vivida e sofrida por milhares de pessoas, no presente e no passado, ocasionando traumas difíceis de serem superados. Nestas situações, temos clareza e algum entendimento quando observamos determinados comportamentos, e estes, assim como os outros, relacionados à escassez emocional, merecem a nossa atenção e precisam de tratamento.
Fazendo companhia quase que direta aos sentimentos de insuficiência, temos ainda a expressão “e se…?”.
Estas duas palavras tão pequenas nos perseguem com tamanha frequência que não raro somos incapazes de valorizar o que conquistamos com esforço próprio, de reconhecer o que o outro fez por nós, de compreender que fizemos o melhor que podíamos mediante nosso conhecimento e experiência do momento, de delimitar responsabilidades dentro de nossos relacionamentos, de saber o momento de parar e/ou seguir adiante, ou seja, de possibilitar boas interações em nossas vidas.
Então, por ora, que tal nos deleitarmos com os nossos bowls repletos de pipoca, e pensarmos que se alguns grãos não estouraram, é porque a qualidade não era boa e precisam ser descartados; ou é porque não recebeu calor, óleo e/ou manteiga suficiente e da próxima vez temperamos melhor; ou é porque não era pra transformar-se em pipoca e está tudo bem!
Psicóloga Alkeandra Souza,
CRP 06/131906
Especialista em Neuropsicologia clínica aplicada à Reabilitação, pelo Centro de Estudo e Pesquisa Clínica Saúde (CEPCS-SP) e Pós-graduanda em Psicossomática Psicanalítica – Corpo e Clínica Contemporânea, pelo Instituto Sedes Sapientiae (SP). Psicóloga parceira da FREUND & PARTNERS desde 2018. Para contatar Alkeandra, deixe-nos uma mensagem ou entre em contato com ela diretamente no (+ 55 11) 99908-1917.