Sentimentos extremos?
Saiba como podem ser os sintomas que caracterizam os transtornos de personalidade.
Quem carrega um transtorno de personalidade não necessariamente sabe o que é viver no limite, entretanto, nós, enquanto pessoas próximas, sabemos muito bem. Um sentimento que vai do céu ao inferno em uma fração de segundos. Ou, vice-versa… do inferno ao céu. Com suas emoções desajustadas e descontroladas, pessoas que apresentem tais transtornos, sofrem por consequências a tais emoções, é como se sofressem, ao mesmo tempo, os efeitos das suas ações e os efeitos que causam por meio delas.
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Se você é uma dessas pessoas, saiba que você não está sozinho. Há dados da Sociedade Brasileira de Psiquiatria que esse transtorno chega a quase 10% da população mundial, podendo ser ainda mais elevado porque muitos diagnósticos ainda não são detectados com precisão. Como fechar e apresentar um diagnóstico que define, de fato, a personalidade do sujeito? Bem complexo, sim? Até porque, falar de personalidade é algo muito, muito particular. É único.
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Por definição do DSM – 5 (Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais da APA – American Psychiatric Assossiation), um transtorno de personalidade é um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é difuso e inflexível, começa na adolescência ou no início da fase adulta, é estável ao longo do tempo e leva a sofrimento e prejuízo. Perceba que fala sobre a experiência interna, o que significa a percepção que a pessoa tem a respeito de si, do Outro, das suas relações e de mundo. Fala-se também das expectativas culturais, ou seja: o que é aceito por adequado ou não, em questões comportamentais, dentro da sociedade na qual, essa pessoa está inserida?
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No consultório, atendo pacientes que revelam uma variação de humor bem extrema, com picos de felicidade e outros deprimidos, ou ainda, quase simultaneamente, experimentam o desejo de serem amados acima de tudo e todos, e o total desprezo por essas mesmas pessoas, o que podem ser características bem comuns do Transtorno da Personalidade Boderline, por exemplo. Há ainda quem seja extremamente ansioso, desconfiado, dependente, excêntrico e desrespeitoso às regras e leis, ou narcisista? Apresentando-nos uma gama de desajustes emocionais. Ainda que haja uma forte tendência para que essa manifestação psicológica seja ocasionada a partir de um trauma, como luto, separação e abuso sexual, acredito estar intimamente associada aos primeiros anos de vida de tais pessoas acometidas por esses transtornos, a interação com os primeiros cuidadores – não necessariamente os pais, uma rotina de total presença ou ausência de atenção, afeto, atendimento às necessidades emocionais, cuidados essenciais e, negligência.
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Total presença e total ausência? Exato. Percebem a complexidade?
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Eu, enquanto psicóloga cognitivo-comportamental, entendo que o caminho é a tomada de consciência, normalmente, essas pessoas não chegam ao meu consultório por livre e espontânea vontade: há uma pressão dos familiares ou das pessoas do seu convívio. Algo do tipo: “Se você não se tratar, eu te deixo!” ou, “Está impossível convivermos assim”.
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Os sintomas e manifestações constituem um conjunto que conduzem o tratamento dessas instabilidades emocionais, aliados à terapia e medicação. E, muito AMOR. Juntos, o sucesso do tratamento é esperançoso, assim como a participação de familiares, amigos e colegas de trabalho daquele que carrega consigo qualquer tipo de transtorno de personalidade.
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Digo isso porque o sofrimento não é apenas do paciente, lembram? Mas, sim, de todos aqueles que rodeiam quem possui um diagnóstico assim. Por serem muitas vezes extremistas, as atitudes acabam sendo um reflexo. E, quem convive com pessoas assim, precisa, sim, administrar a situação. Lembra que iniciei esse texto falando das emoções que vão do céu ao inferno (ou do inferno ao céu)? Ou aquele medo extremo de algo que nem sabe o que é. É a isso que me refiro.
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Muitas vezes, ante de um diagnóstico médico, quem sofre com qualquer tipo transtorno é visto como intransigente, fraco emocionalmente (muitos acabam fazendo uso excessivo de álcool e drogas), dependente, instável, rebelde, sem empatia, frio e calculista, enfim, causando problemas nos relacionamentos pessoais e profissionais.
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Sabe aquele parente que não para em emprego algum? Ou que os relacionamentos não batem os seis meses? Que diz todos estarem contra ele ou errados, e ele sim, é o certo?!
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Calma! Não precisa sair por aí avaliando psicologicamente e psicossocialmente quem você conhece. Mas ficar esperto, vale a pena. Quem sabe começar por você? Pode ser um bom começo…
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Bem, antes de finalizar esse conteúdo que produzi com muito carinho a vocês, trago alguns tipos de Transtornos de Personalidade que são mais explorados na indústria do cinema e não somente, e são os que, banalmente, por vezes, nos referimos às pessoas que conhecemos. São 10 ao total, divididos em 3 classificações, mas vou me deter ao longo dos próximos dias nesses 4:
- Transtorno de Personalidade Paranoide
- Transtorno de Personalidade Borderline
- Transtorno de Personalidade Antissocial (não usamos mais o termo psicopata, por razões óbvias, ter sido transformado em um adjetivo pejorativo)
- Transtorno de Personalidade Narcisista
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Estamos combinados?
Sempre com muito respeito e carinho da sua psicóloga,
Priscilla Freund