A poda do jardim com Psicóloga Alkeandra Souza

A poda do jardim com Psicóloga Alkeandra Souza

A poda do jardim com Psicóloga Alkeandra Souza 150 150 Profissional parceiro convidado

A poda do jardim

 

Nestas duas últimas semanas acompanhei diariamente o trabalho de poda realizado no meu condomínio. Acordei por vários dias com o barulho de máquinas e vozes dos profissionais que por aqui estiveram. Era um zum-zum-zum diferenciado, nada parecido com o cantar dos pássaros que nos despertam todas as manhãs.

Uma movimentação atípica que me levou a pensar em um ciclo de renovação, uma ação necessária devido ao incômodo que muitas daquelas árvores estavam causando a alguns apartamentos, perigo ao encostar em fios elétricos e também uma urgência em abrir espaços onde os velhos galhos não cresciam mais.

Assim como as plantas, nós também somos semeados, aguardados e germinados com muita expectativa. A nossa germinação, processo de transformação de uma semente em uma planta, leva ao redor de nove meses; se tudo ocorrer conforme o esperado pela Medicina convencional. Daí crescemos, amadurecemos e morremos. É o ciclo da vida mais ou menos assim!

Dentro deste ciclo, que pode ser longo ou curto, precisamos de tempos em tempos fortalecer as nossas raízes com adubo mais forte, trocar as nossas velhas folhas para que novas possam nascer, eliminar os galhos que já morreram e devemos nos desfazer, e colher os frutos e flores do nosso cultivo diário.

Falando assim parece tão fácil. No entanto, nem sempre o é!

Mas voltemos ao jardim.

Particularmente eu acho este jardim muito bonito e acolhedor. Tem árvores grandes e frondosas – algumas até frutíferas! – médias e pequenas; flores das mais variadas espécies, com suas cores, tamanhos e aromas que estimulam o sistema sensorial de qualquer pessoa que por ali caminhe ao longo do passeio, sente em um banco para conversar, ler um bom livro ou apenas desfrutar de instantes bucólicos sob a sombra e frescor proporcionados por estas nossas amigas tão generosas.

Por vezes o sol nos brinda com a sua luz e calor, sempre através de uma tentativa obstinada de fazer com que os seus raios cruzem a copa das árvores e ultrapassem um caminho que parece intransponível.

A cada parte de árvore que eu via cair ao chão, pensava: “Poxa vida! Será que há mesmo a necessidade de podar tanto assim?” E a serra elétrica continuava o seu trabalho. Barulhenta, incansável e impiedosa.

E quantas vezes a nossa vida é assim?

Há tempos em que vivemos tranquilos, felizes e até conformados, acreditando e aceitando a vida como ela apresenta-se a nós. E há tempos em que de uma hora para outra a atroz serra elétrica aparece e nos arranca o nosso jardim, ou partes dele, na tentativa de nos dizer que é chegada a hora de renovar.

Faz ruído, remexe a terra que por anos mantivemos sem revolver, e que em determinado momento é inevitável tocar, encarafunchar, retirar o entulho e preparar adubos para um novo plantar.

Então o jardim que nos era bastante familiar, que nos trazia beleza, paz, alegrias – e porque não lembrar das ervas daninhas?! – agora não é mais possível olhar.

É urgente providenciar novas sementes, adubo orgânico ou químico, e todos os outros cuidados destinados a este novo jardim que nos brindará com outras possibilidades ao germinar.

Antes de continuar, quero salientar que um jardim nunca morre da noite para o dia. Precisamos nos esforçar para que isto aconteça.

Claro que falando no senso comum, ninguém mataria um jardim de propósito, mas esta morte acontece no silêncio, muitas vezes por anos a fio.

Um sinal de que tudo vai bem é quando você se alegra ao encontrar com as suas plantas todos os dias, e percebe o verde reluzente, os brotos nascendo próximos às raízes, a água que você dosa sempre atento à quantidade para não “afogar”, a temperatura ideal para que as flores e folhas não queimem ao contato com o sol. Tudo isso, aliado ao amor que você dedica para que elas vivam dentro de uma harmonia, traz o conforto de que terão uma vida longa.

Cuidados simples não é mesmo, mas que fazem toda a diferença!

Agora, se o contrário acontece, é difícil aceitar que fizemos parte deste processo. Perceber a presença de fungos, flores que não nos brindam mais com suas cores e aromas, caules ocos, ou seja, uma completa ausência de vida.

Para alguns jardineiros a perda de um jardim que um dia fora tão belo e desejado é algo inadmissível. Já outros a recebem como uma grata oportunidade de um novo cultivo, baseado nas experiências boas e “desastrosas” do passado.

Nestes processos o que importa é o entendimento de que nem sempre o cultivo e a manutenção do jardim dependem somente de nós. Durante a nossa vida, ganharemos e perderemos muitos jardins, mesmo zelando por eles. O que deve permanecer, sempre, é a nossa capacidade de organizar os aprendizados e recomeçar.

O condomínio agora tem um novo visual. Não com novas plantas mas com plantas tratadas, podadas, sem o peso que carregavam de caules e folhas mortas. É possível notar em várias árvores a seiva escorrer – como um choro calado – esperando os novos dias que virão depois de tamanha destruição.

Apesar disso, enquanto este “choro” escorre, ele também transporta nutrientes para as células de partes das plantas que não foram cortadas; alimentando, fortalecendo e contribuindo para um maravilhoso reflorescer.

O inverno está para chegar. É tempo de se recolher, curar as feridas provocadas pela famigerada serra elétrica, refletir e compreender que, a aparência vazia e desolada de partes do jardim, é necessária para que daqui a algum tempo, possamos apreciar uma significativa transformação.

 

Psicóloga Alkeandra Souza

CRP 06/131906

Especialista em Neuropsicologia clínica aplicada à Reabilitação, pelo Centro de Estudo e Pesquisa Clínica Saúde (CEPCS-SP) e Pós-graduanda em Psicossomática Psicanalítica – Corpo e Clínica Contemporânea, pelo Instituto Sedes Sapientiae (SP). Psicóloga parceira da FREUND & PARTNERS desde 2018. Para contatar Alkeandra, deixe-nos uma mensagem ou entre em contato com ela diretamente no (+ 55 11) 99908-1917.

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