“Até que a morte os separe” – Mas, qual das mortes?

“Até que a morte os separe” – Mas, qual das mortes?

“Até que a morte os separe” – Mas, qual das mortes? 150 150 Priscilla Freund
Me questiono o que os padres, ou sejam lá quem forem, querem verdadeiramente dizer com “até que a morte os separe”. De qual morte eles se referem, a morte que nos impossibilita de viver com todas as nossas funções fisiológicas ou, a morte da nossa individuação?
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Comecemos por entender individuação: 1.Na língua portuguesa, se não estou enganada, significa ação de individuar. Ou seja, ato de distinguir um indivíduo do outro, mostrando uma ação distinta no que se refere a uma parte em relação ao todo, cada vez mais independente. O que não é o caso do ” individualismo”, em que um ser vive exclusivamente pensando em si (egoísmo) – em latim “principium individuationis”– que consiste no processo pelo qual uma parte do todo se torna progressivamente mais distinta e independente; diferenciação do todo em partes cada vez mais independentes e singulares. 2. Na filosofia, é entendido pela realização de uma espécie, de uma ideia geral em um indivíduo. 3. Na psicanálise, um processo por meio do qual uma pessoa se torna consciente de sua individualidade.
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E por isso, quando vou a casamentos ou os assisto em filmes, me intriga essa morte, novamente, qual morte?
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Todos nós temos a necessidade vital de segurança que nos leva, em supremacia, a buscar relacionamentos convencionais, do tipo um para o outro. Essa segurança foi teorizada e ilustrada por Maslow em sua pirâmide da hierarquia das necessidades humanas e ressurge nos estudos das carreiras quando precisamos nos sentir fazendo parte de algo, pertencendo à alguma entidade. Quando temos o sentimento de pertencimento, experimentamos significado, satisfação com a vida, saúde física e estabilidade psicológica. Quando nos sentimos excluídos, resultam dor física e uma ampla gama de doenças psicológicas.
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Mas até que ponto, digo, qual o limite – se é que esse possa ser percebido – entre a segurança da intimidade e do sentimento de pertencer à entidade Relacionamento e o risco de perder a si mesmos no seu processo de individuação?
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Procuramos numa única pessoa: propósito de vida, continuidade, que seja a nossa base, o nosso porto-seguro, de onde sair e para onde voltar. Ainda, em cerimônias religiosas ou não, repete-se: “que se tornem um só”. Queremos em igual proporção, romantismo, emoção, sedução e sexo.  Aguardamos com entusiasmo que o Outro nos deseje e prometemos lhe desejar, na alegria e na tristeza. Quanta expectativa, quanta estereotipagem!
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O erotismo demanda distância. Para termos vontade de entrar, literalmente, no Outro, é preciso conseguir a chave de acesso, os códigos e senhas. Há segredos. Aliás, deveria haver mais coisas entre um casal do que a nossa vã filosofia pode imaginar entre o céu e a terra, parafraseando Shakespeare – e não me refiro aos brinquedos dos filhos, almofadas espalhadas pelo chão, roupas para lavar e pratos com restos de comida..
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O amor busca proximidade, mas o desejo precisa de distanciamento.
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Mantenham seus sigilos, seus segredos a salvo. Percebam que isso nada tem a ver com traição, por favor, não escrevo sobre deslealdade e sim, sobre manter a chama da paixão, unir o que está separado. Estão juntos, nesse momento mais que nunca: dia e noite, noite e dia, da sala para o quarto, do quarto para a cozinha, nada de terceiros nada de happy hours com desconhecidos… vocês com vocês. E muitos me falam de um abismo – um vão livre que os impede de chegar aos parceiros. Essa conta não fecha. Enquanto morando separados, era uma agonia, uma espera ansiosa pelo momento do encontro – frio na barriga, brilho nos olhos, voz trêmula. Agora, uma vontade que o dia termine e que possam deitar e, apagar!
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Vocês são os mesmos – claro, mudamos todos os dias, e entendo que os corpos de alguns também, a energia de outros, idem – mas, essencialmente, ainda são os mesmos que se apaixonaram anos antes. Onde vocês se esqueceram? será que foi no momento que memorizaram as senhas dos celulares e e-mails uns dos outros, ou o desenho de desbloqueio das telas dos tablets? será que deixaram de ouvir aquela voz que seduzia quando passaram a ouvir as conversas por detrás das portas? deixaram de desejar ver a sexualidade uns nos outros quando a exposição dos corpos fora banalizada, entre uma saída e outra do banho na busca pela-toalha-que-nunca-está-onde-deveria-estar?
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Livros abertos nunca chamaram a nossa atenção…Se afastem para se aproximarem!
Com carinho,
Priscilla Freund.

Priscilla Freund

Psicóloga Sistêmica com especialização em Terapia Familiar e de Casal pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e Coach Executiva membro da Sociedade Latino-Americana de Coaching com especialização em Gestão Estratégica de Pessoas: Carreiras, Liderança e Coaching pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

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