Relacionamento tóxico: você vive um?
Ele te suga. Te joga para baixo. Você escuta várias críticas “construtivas” (já falei sobre isso nesse vídeo) e até é convencida de que está sempre errada. Os episódios em que você se sente humilhada e com a sua personalidade vetada são corriqueiros. Há agressões verbais e, acredito, até físicas, afinal, há rompantes, ameaças e atitudes impulsivas.
Depois de tudo isso, vem um pedido de perdão. A reconciliação. Presentes, carinhos, promessas de que isso não vai mais se repetir.
Assim tem sido a rotina da Maria*, uma jovem de 38 anos que vive um relacionamento tóxico e abusivo há cerca de 3 anos. A cada discussão as ameaças por parte do marido, que a proíbe de trabalhar são corriqueiras. Na minha percepção, enquanto psicóloga cognitivo-comportamental, percebo que essa proibição ou esse modelo de relação faz parte de um ciclo de comportamento agressivo-passivo do marido que, pode ser entendido desde uma relação de controle por segurança na relação, até traços de um transtorno de personalidade no qual, funções como empatia e compaixão para com o Outro não existam.
Ela, permissiva (e sim, vítima) sofre em silêncio. Acredita, de verdade, que Paulo* – seu esposo, arrepende-se das atitudes e que a mudança virá. Algum dia ou nunca. Esse tipo de relacionamento é tóxico, doentio e precisa, SIM, de um ponto final. E garanto a vocês: atendo a Maria há algum tempo e essa sempre foi a queixa principal dela em consultório.
O assunto é sério e precisamos falar sobre isso. Não preciso listar os inúmeros casos de homens que agrediram fisicamente mulheres, certo? Até que, cansadas, física e emocionalmente muito machucadas e amedrontadas diante as ameaças, foram a público pedir socorro – embora seja um número cada vez maior de pedidos de socorro, ainda assim, é muito pequeno se comparado ao número de mulheres que sofrem dia após dia caladas.
Casos assim, que chegam ao extremo, revelam o esgotamento de uma das partes que vive nesse relacionamento. É um jogo doentio de manipulação com resquícios de crueldade, no qual, a vítima, ao receber estímulos agressivos e de invalidação espontâneos e intermitentes, entra em um estado de adoecimento se tornando incapaz de perceber a si mesma como vítima – claro, afinal, se é ela quem apanha, algo de errado deve estar fazendo, ou ele não a trataria assim. Sendo assim, passa a evitar cada vez mais a exposição social, se isola, se cala e deixa sua vida em segundo plano. Ou seja, depois da vida do parceiro – ou parceirA.
Poderia mencionar outros casos de relacionamentos violentos. Mas prefiro abordar alguns sinais para que essa situação seja identificada. Sabe, percebo no consultório, principalmente de mulheres, que vivem uma relação de abuso doméstico e que não percebem o quanto estão sendo manipuladas. Isso me preocupa bastante. BASTANTE.
SINAL AMARELO:
- Aponta defeitos nos seus amigos e familiares criando confusão cada vez em que você relata que esteve com eles ou que vai encontrá-los
- Pede a você o acesso às contas que requerem senhas, por exemplo: e-mails, celular, conta bancária etc.
- Implica com a sua maneira de ser: vestir, maquiar ou não maquiar, falar, andar, dançar, cozinhar etc.
- Aponta defeitos na sua aparência, desrespeitando o seu corpo, seus cabelos, seu sorriso, sua pele etc.
- Ao se referir a você, utiliza adjetivos e tons pejorativos, como: “tonta, burra, tapada, preguiçosa, ridícula, idiota, sem noção” ou qualquer um outro parecido.
- Elogia e/ou flerta com outras mulheres demasiadamente, a ponto de causar constrangimento a você e/ou aos outros.
- Menospreza ou age com indiferença: ignora você enquanto conversam, não responde às suas perguntas etc.
- Gritos e sustos propositais, uso de palavrões e palavras ofensivas
- Sexo violento e/ou sem consentimento
SINAL VERMELHO:
- Ameaça de todos os tipos
- Bloqueio de acesso aos seus pertences, por exemplo: celular, chave de carro, chave da casa, documentos etc.
- Agressão física: empurrões, tapas, chutes, pontapés, puxões de cabelo e/ou orelhas, beliscões, arremessos de objetos etc.
Meus amores, um relacionamento deve ser saudável, prazeroso e que deixe o casal bem e feliz. Enquanto em um relacionamento violento, abusivo ou tóxico (como lhe for melhor chamar, se é que podemos usar a palavra melhor) não há respeito entre as partes, há uma frequência de comportamentos manipuladores mantendo um ciclo de abusos. Costumo dizer que um relacionamento tóxico pode ser identificado não pelo que o Outro faz, mas pela maneira como nos sentimos.
Vou explicar a vocês!
Para isso, vou voltar à história da minha paciente, Maria, que, por questões éticas e por sigilo absoluto, alterei seu nome e todo e qualquer dado da sua história para preservar a sua identidade.
Paulo tanto fez, tanto menosprezou as habilidades profissionais dela que, sentindo-se insegura e incapaz, abandonou a carreira de publicitária.
É difícil, eu concordo com você. Mas não é impossível!
E não foi para a Maria que, hoje, vive um segundo relacionamento em que é valorizada, respeitada e incentivada. Inclusive, sua carreira vai muito bem, obrigada!
Se a Maria conseguiu, você também consegue.
Com carinho, com todo o meu apoio e profundo respeito,
Sua psicóloga,
Priscilla Freund.