Acredito que a maioria de nós, na infância, ao aprender a andar de bicicleta, ouviu os pais, enquanto correndo ao nosso lado na tentativa desesperada de nos segurar caso caíssemos, gritando: “Olha para frente, cuidado para não cair! assim você vai cair, presta atenção!” – sim, ou sim?!
Exatamente sobre isso que eu gostaria de compartilhar a minha percepção, sobre tais quedas. Não que eu saiba ensinar alguém a andar de bicicletas, tampouco, a ser mãe ou pai, uma vez que nem filhos tenho, não, não. A minha reflexão é sobre como desenvolvemos as habilidades necessárias para nos levantarmos das quedas como parte de um programa de desenvolvimento de coragem, e assim, perdermos o medo de cair. Possivelmente, se você e eu tivéssemos aprendido a como cair antes de como “andar de bicicleta”, teríamos sofrido menos ansiedade e curtido mais essa atividade – aposto que sim!
A nossa sociedade – e me refiro ao modelo de educação formal, inclusive – nos ensina a lidar com os erros somente quando nos deparamos com eles, então, habilidades de risco, ou resiliência, nos são apresentadas após termos sentido na pele o fracasso, a derrota. Novamente me remete às histórias sombrias, segredos quase ritualísticos – tabus familiares. Algo como: “Engula o choro, finja que não aconteceu nada e não fale mais disso com ninguém“.
Li em um livro (e recomendo a leitura – deixo o título e o nome da autora logo abaixo, caso se interesse) a seguinte frase: ” Quando temos coragem de entrar na nossa própria história e reconhecê-la, temos a oportunidade de escrever o final. E quando não reconhecemos nossas histórias de fracasso, percalços e sofrimento, elas é que mandam em nós“.
E volto aos nossos pais me questionando se eles, não tivessem gritado ” Tome cuidado, olhe para a frente e não caia! ” e sim “Vamos lá, seja corajoso! Você consegue, lembre que cair faz parte e você já sabe como levantar! ” – qual teria sido o impacto prático nas nossas vidas?
Será que seríamos mais flexíveis e resistentes na recuperação dos nossos fracassos, saberíamos lidar com o risco tão naturalmente quanto respirar, estaríamos menos expostos aos traumas, uma vez que saberíamos todos os passos do processo, e que sim, eles não somente fazem parte, como são necessários para o aprendizado e a consolidação das nossas habilidades?!
Nesse mesmo livro, a autora compartilha uma experiência dela com o diretor da escola do seu filho, que diz que “muitos pais passaram de superprotetores para hiperprotetores. Em vez de preparar os filhos para seguirem seu caminho, preparam o caminho para os filhos“. E assim, lembrei de uma história vivida por um gestor conhecido na qual, seus pais, não somente diziam a ele para tomar “cuidado, já que ele poderia cair” – mas insistiam perguntando se ele “tinha certeza do que estava fazendo, uma vez que determinada situação era muito difícil para ele e, ele não daria conta” (…). Ai, ai, ai – preciso mencionar que, ao ser questionado diante de uma tomada de decisão no mundo corporativo, ele se invalida ainda hoje?!
Deixo essa reflexão com vocês para que se questionem a respeito de como foram ensinados a perceber e viver os riscos, como lidam com suas histórias e quais finais estão deixando de escrever por terem omitido de si próprios, tais quedas de bicicleta…
O nome do livro é A Coragem para Liderar, de Brené Brown – leitura leve e necessária aos líderes das suas próprias vidas, aos pais de líderes, e sugerido a vocês.
Com carinho,
Priscilla Freund.
Eu adorei o texto e pretendo ler novamente, deveria escrever um livro.Muito obrigada, vou pensar sobre o texto e o que posso melhorar.Bjs.