“As coisas mais importantes nunca devem ficar à mercê das coisas menos importantes” – Goethe
O conteúdo de cada sessão, seja ela de psicoterapia ou de coaching executivo, é pessoal e intransferível. Entretanto, os últimos dias têm me evidenciado um tema comum à maioria das minhas sessões: Como gerenciar o tempo durante a quarentena? Dada a demanda, decidi compartilhar com vocês, parte do conteúdo desses encontros selecionando três atividades sugeridas ora por mim, ora por meus clientes.
Todavia, observem que o título não é Gestão de Tempo mas Gerenciamento Pessoal. E não é por acaso, uma vez que, esse recurso hoje nos sobra – o tempo consumido no trânsito em longos minutos de congestionamento, o deixar e buscar as crianças nas escolas, o tempo necessário para ir de uma reunião a outra e visitar clientes em diferentes regiões da cidade, o deslocamento aos restaurantes ou bares para refeições durante a rotina de trabalho, ou happy hours com os amigos, enfim, esse tempo que sempre fora minuciosamente calculado, hoje nos é ofertado. Esse tempo, que outrora fora motivo de desespero, hoje é desesperador…Como lidar com essa abundância, como podem os dias parecerem ter 36 horas – Como, me diga, como?
É fato, não estamos ou, poucos são os acostumados a ter fartura nesse recurso: tempo. Porém, adotarmos estratégias radicais de isolamento social para reter o coronavírus, pode salvar mais de 1 milhão de vidas no Brasil, segundo estudo feito por cientistas de Londres. E sim, não estamos habituados tampouco a vivermos isolados, embora concordamos que parte das nossas vidas passamos na sociedade do telefone celular, apesar de todos os nossos esforços em administrar o nosso tempo, fazer mais com menos – não sendo clichê, mas já sendo -sermos eficientes, e altamente engajados e comprometidos com tarefas – pasmem – sem importância. Bom, esse é o cenário, e nele vamos viver, e assim fazer, da melhor maneira possível!
Então, como prometido, divido com vocês três pilares que, perdoem a redundância, servirão de base para o gerenciamento de si e do tempo pelos próximos dias, meses, e que assim se tornem, hábitos.
- (RE-) Organização temporal e espacial
O isolamento físico altera a nossa percepção de tempo e espaço, perdemos divisas e padrões da nossa rotina – horário de acordar e dormir, fazer as refeições, começar a trabalhar e terminar, os dias destinados a visitar familiares, horário para a atividade física, etc. Tínhamos, até então, horários e atividades bem definidos – o que nos dava uma sensação de termos o controle das nossas próprias vidas, diferentemente do que vivemos hoje. Portanto, se entendermos que o gerenciamento, per se, é a divisão em partes, a análise, o sequenciamento, a capacidade de administrar bem, vamos prover ao nosso cérebro uma nova estruturação concreta, vamos reinventar uma rotina!
Vamos começar criando um calendário, uma agenda, uma lista diária e semanal, onde preencheremos com todas as informações possíveis as nossas tarefas: compromissos de trabalho, de estudo, compromissos sociais, cuidados com higiene e beleza, cuidados com a alimentação, lazer, atividade física – tudo, tudo. Se você costumava dedicar as últimas horinhas da sexta-feira num animado happy hour com os amigos, mantenha esse hábito! Coloque na sua agenda : “Happy hour com os amigos – das 18h às 20h – plataforma digital X, Y, Z “. Se você dedicava as manhãs de sábado para o cabelereiro ou manicure, continue! Coloque na sua agenda: “Pé e mão/ escova – das 9h às 12h -em casa “. Se você tinha como ritmo de trabalho começar às 8h/ almoçar às 12h30/ parar às 18h. Siga seu ritmo! Bloqueie a sua agenda: “Escritório – das 8h às 18h – home office” (…).
E por falar em home office (expressão charmosinha essa, o melhor dos mundos: trabalhar no lar – home sweet home). Onde e como tem sido o seu? É importante ter um cantinho para chamar de seu (eu sei, eu sei…as crianças estão em casa…TODO mundo está em casa!). Mas, é necessário e crucial que você consiga delimitar um espaço para as suas ferramentas de trabalho, e mais (me desculpem!), que seja agradável estar nele. Procure um lugar arejado, com boa luminosidade, sem ruídos, o conforto que você considere bom para ocupar-se na sua função com qualidade e alegria. Esse será o seu local de trabalho – nele você trabalha, lê, ouve sua música, enfim, faz o que faria se estivesse na empresa. As refeições? não, não – essas serão coletivamente, se estiver em família ou com colegas que dividam a casa com você, óbvio. Se você almoçava com a turma, agora essa será a sua nova turma, risos.
- Aprender coisas diferentes
Aproveite esse momento para estimular o seu cérebro – isso, nem só de corpo vive o homem. Há muitas maneiras de ver o cérebro, como há muitas maneiras de ver o mundo. Pratique esse olhar curioso, investigativo e saiba que você tem algo muito valioso a seu favor: a elasticidade cerebral, que é a capacidade de se adaptar a novos estímulos e de aprender com eles. São vários os processos e neurônios envolvidos na aprendizagem, mas é certo que essa fabulosa engenharia está pronta para ganhar e reter informações, que processadas serão conteúdo, que se aplicados, experimentados e repetidos, serão habilidades, que se consolidadas, serão competências. Portanto, estabeleça objetivos, mantenha-se ocupado na superação de algo desconhecido – aprenda um idioma, um jogo, leia um livro de um autor não conhecido, aprenda a tocar um instrumento, faça yoga, aerohiit, capoeira, o que seja, mas faça. Manter-se entretido contribui com a distração de pensamentos desassossegados e impacientes, além, de auxiliar no controle da ansiedade.
- Mantenha-se em equilíbrio emocional
Esteja de corpo e alma presente. Muito se tem ouvido sobre mindfulness – atenção plena, e não estar em “piloto automático”. Viver de maneira automatizada é como chupar uma bala sem tirá-la da embalagem – sem sabor, sem propósito. Esteja cem por cento onde e com quem estiver, esteja atento aos aromas, sabores, texturas, gestos, palavras, comportamentos. Se perceba e perceba aos Outros. Brinco no consultório que eu, Priscilla, entendo o mindfulness como uma análise morfológica das palavras, ou, sintática das orações – lembram disso, das aulas de gramática? pois é, falo sobre perceber cada pessoa ou atividade como única, captar sua função, a relação lógica e emocional, até obtermos a compreensão dos significados. Em outras palavras, é fazer por inteiro o que se dispõe a fazer. É viver e curtir a vida!
Boa semana, bom gerenciamento de si e, na medida do possível, fiquemos em casa!
Priscilla Freund