Todos os finais de semana, sento na varanda para tomar o meu café com leite e pego os jornais, vou folheando – lendo alguma coisa aqui, outra ali – até me sentir tocada por um assunto que, possivelmente, vira um tema para escrever a respeito.
Nesse domingo não está diferente, embora esteja lendo os jornais com atraso – os deixo na porta do apartamento pelo tempo de resistência do vírus em algumas superfícies analisadas por cientistas, adotando essa prática como medida de proteção a Covid-19 – vejo de tudo, um pouco.
Há notícias sobre o número de pessoas infectadas pelo coronavírus e de mortes no Brasil e no mundo; a postura dos líderes no governo diante a pandemia; a queda no número de furtos e o aumento no número de homicídios em SP; a guerra da cloroquina; o atraso dos julgamentos da operação Lava Jato devido ao cenário de saúde pública; o posicionamento de religiosos –a favor ou contra a presença maciça em cultos e missas; a luta de braço dos países pela aquisição de máscaras e respiradores – quem paga mais, eis a questão; programas que salvam o emprego e empobrecem ao mesmo tempo; a retomada parcial de atividades simultânea a ameaça de lockdown; construtoras renegociando contratos de imóveis vendidos e outras estimulando a venda num momento de “se livrar de dívidas e não contrair novas”; um hotel ícone de luxo fechando suas portas e outros as abrindo a um perfil de cliente não antes bem-vindo; duas gigantes da tecnologia se unindo por um bem maior, a dúvida é se esse bem são os nossos dados ou a nossa proteção; dicas de beleza, saúde, livros e filmes; cantores se reinventando por meio das lives em redes sociais e marcas de bebidas se beneficiando com a exposição em massa; o horóscopo prometendo resoluções a todos os problemas de todos os signos após esse período de isolamento social; praias vazias e feiras de peixes lotadas; as escolas inovando em como fazer um conteúdo de qualidade chegar aos seus alunos e o “mestre” da educação no país sendo chamado de irresponsável – comentários lamentáveis… e pasmem, um militar pregando a desobediência civil – uma novidade na história da humanidade.
Leio de tudo e não penso em nada. Aliás, já sei: vou escrever sobre … a Páscoa! Não, não pensei em “coelhinho da páscoa o que trazes pra mim, um ovo, dois ovos, três ovos assim” – pensei no seu significado, embora falar da sua origem represente entrar num campo de suposições e metáforas, acredito que a história possa nos elucidar algumas reflexões.
Uma das festas mais tradicionais do cristianismo é a Páscoa. Essa festa, por sua vez, não é originária do cristianismo, e sim do judaísmo, religião tradicional dos hebreus e, relembra a libertação do povo, sendo conhecida pelos judeus como Pessach, palavra do hebraico que significa passagem.
A Páscoa judaica aconteceu pouco antes da execução da décima praga, na qual o anjo da morte desceu ao Egito e matou todos os primogênitos daquela terra. O anjo da morte só não passou pelas casas daqueles que haviam seguido as ordens (…).
Para os cristãos, por sua vez, a Páscoa possui um significado distinto da crença judaica, contudo, a festa cristã possui uma ligação direta com a dos judeus. Cristãos concebem a Páscoa como a crucificação, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Dentro da tradição cristã, a ressurreição de Cristo aconteceu no terceiro dia após sua crucificação – a data de hoje: O Domingo de Páscoa.
Penso, que época seria mais propícia para falarmos sobre passagens, mortes, lutos, ressurreição e salvações?
A Páscoa também tem em sua data, um simbolismo: sua data é móvel tal qual a do Carnaval – festa percebida na Idade Média pela liberação de todas as suas vontades pelas festas e que, antecedia o período de privações imposto pela Igreja Católica, a Quaresma. Quanta semelhança, sim? Parecem até que golfinhos foram vistos de volta aos canais de Veneza e que apesar de muitos estarem doentes, o planeta Terra está mais vívido que nunca.
Foram muitas vezes que disse em sessões (psicoterapia ou coaching com gestores apreensivos com suas posições e estratégias nas empresas) desde que tudo isso – digo, a pandemia e o pedido de isolamento social – começou que, não sairemos os mesmos após essa pandemia. Estamos em processo de mudança – em todos os sentidos.
Estamos em passagem…
Boa Páscoa!
Priscilla Freund