Assim começa e termina uma ligação de um executivo que participava de um processo seletivo em uma das Melhores Empresas Para Trabalhar – Ele ligando para informar que A empresa não fora mantida no seu processo seletivo por não ter as competências humanas determinadas por Ele (…)
Li certa vez que “Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a construção das colmeias pelas abelhas atinge tal perfeição que envergonha muitos arquitetos. Mas o que distingue o pior dos arquitetos da melhor das abelhas é que ele projeta mentalmente a construção antes de realizá-la“, e vou além, o arquiteto tem a sensibilidade de perceber por meio da fala do seu cliente, as suas expectativas. O arquiteto tem a capacidade de sentir. O texto citado personifica com perfeição, a essência do trabalho do homem.
Estou há tempo para escrever sobre esse tema – a etiqueta nos processos seletivos – todavia, não me refiro a etiqueta que nós, reles mortais, precisamos dispor para participarmos desses processos, não, não. Essa etiqueta refere-se às empresas e ao modo como essas percebem os seus candidatos, os seus processos internos e a relação entre eles. Começamos por entender etiqueta em sua conceituação e, cabe ressaltar que não é somente sermos elegantes e de gestos refinados mas, um conjunto de regras, estilos, traje, palavras e atitudes, é a arte das boas maneiras e dos bons costumes que padroniza a maneira politicamente correta de nos portarmos em uma ou outra situação.
Uma empresa não é simplesmente uma unidade econômica, mas uma instituição social, e portanto, é parte expressiva da sociedade e tem, entre suas funções, a importância em tornar a sociedade mais justa.
Mary Parker Follet, uma autora americana que contribuiu imensamente com a gestão de pessoas e defendeu a substituição de instituições burocráticas por networks, destacou que os problemas de uma organização consistem substancialmente em problemas de relações humanas e que o objetivo da administração seria integrar pessoas e coordenar suas atividades. Sendo assim, penso eu, que o RH atue como mediador de expectativas.
E por falar em expectativas, qual processo envolve mais expectativas senão um Processo Seletivo?
Um Processo Seletivo causa sensações ímpares nas pessoas, uma combinação de esperança por conseguir uma oportunidade profissional, uma tão sonhada recolocação; de desejo de se perceber produtivo e ativo economicamente; de autoestima; e de ansiedade e medo de perder a chance, de comportar-se inadequadamente, de não se vender apropriadamente, o medo da rejeição.
A sensação de esperança é benéfica e contribui para o desempenho do candidato, traz ânimo e motiva a ir até o fim do processo na espera da tão aguardada oportunidade profissional. No entanto, o medo e a ansiedade, se não forem dosados tendem a atrapalhar a vida do indivíduo e daqueles que com ele convivem, em todos os aspectos.
Soube de casos nos quais, candidatos perderam tanto peso ao longo do processo de seleção, que precisaram ajustar suas roupas, outros sofreram sintomas ansiosos tão violentos, que precisaram recorrer à medicação prescrita; outros tiveram problemas conjugais, outros…outros…outros…Percebem do que estamos falando? Sim, de vidas.
Senhores gestores, entendo perfeitamente os inúmeros processos que estão sob suas responsabilidades, a quantidade de atividades que têm, as infinitas reuniões e a caixa de e-mails que não dá trégua – mas, atualizem os seus candidatos a respeito do preenchimento das vagas, nem que seja através de uma breve mensagem padrão – não que seja o ideal, mas já é algo – enviada eletronicamente. Novamente, entendo que não temos serenidade para pensarmos em selecionar pessoas ou, trazer pessoas a bordo – até porque, há barcos afundando nesse cenário de instabilidade econômica que vivemos – mas informem os seus candidatos a respeito do status da vaga, se está “congelada” ou o processo suspenso até que a vida volte ao normal, enfim, qualquer informação é mais que bem-vinda, é esperada.
É prepotente deixar alguém sem resposta. Antes de serem talentos (palavra bonita usada por Gente & Gestão, não?), são P-E-S-S-O-A-S e merecem ser tratadas respeitosamente desde o primeiro contato no início de um processo seletivo até o último de agradecimento por terem doado preciosos recursos, entre os quais, cito: conhecimento, vivência, história de vida, e tempo – decerto não foram informados mas esse, elas não o têm de sobra…
Só mais uma observação: tampouco deixem que esses candidatos saibam que não fazem mais parte da seleção ou que a vaga continua em aberto através de repostagens nas redes sociais voltadas a contatos profissionais. A sua praticidade, Sra. Empresa, pode ser interpretada como uma atitude pedante ou ainda, ilustrar uma total desorganização nos seus processos internos, e convenhamos, está longe de ser percebida como elegante.
No mais, desejo a todos – candidatos e empresas – boa sorte ao escolher e serem escolhidos!
Priscilla Freund