Quais termos?
Considerada a terceira data comercial mais importante, ficando atrás somente do Natal e do Dia das Mães , o Dia dos Namorados, segundo a Fecomércio, promove vendas no comércio varejista em todo o país. São promoções de todos os tipos: preços mais atrativos e vitrines ou posts em redes sociais decorados com corações, flores e palavras de amor. Tudo vale, contanto que o produto desencalhe!
Perdoem-me o trocadilho, mas esse movimento promocional não me parece algo restrito ao comércio varejista. Vejamos, novamente, os posts nas redes sociais: selfs de corpos perfeitos, bem definidos e com sorrisos que iluminam a alma, pessoas felizes e bem resolvidas com a vida, prontas para serem pedidas em namoro, ou ainda, casais de folhinha, de capa de revista, a melhor representação de um relacionamento: bonitos, bem vestidos, produzidos – ela maquiada, ele barbeado – conseguimos até sentir o perfume deles. O entrosamento? de igual perfeição: se entendem pelo olhar e têm os planos de vida meticulosamente bem traçados, tal qual, são suas imagens.
Em termos. Ou, o viralizado hashtag soquenao. Entendo perfeitamente a necessidade e a importância de datas como a de hoje para o comércio, afinal, são milhões de reais sendo injetados na economia, cartões de crédito popularizando prazos à perder de vista, floriculturas fazendo brotar flores, por vezes, onde nem tem. Uma manobra cadenciada, cíclica e lucrativa. Compreendo. O que me chama a atenção é o movimento emocional que homens e mulheres se dispõem nos dias que antecedem o Dia dos Namorados. Relacionamentos já terminados, ou em vias de, ganham fôlego, numa tentativa quase desesperadora de chegar no dia 12 de junho e ter alguém para chamar de seu, sabe-se lá seu o quê, vale de tudo, vale até, tudo – só não vale ficar sozinho. Não no dia 12 de junho.
Brota amor até de onde não tem e nem nunca teve, talvez. Promessas de mudanças, elogios, uma saudadezinha gostosa, sapeca, até melancólica. Por que não tentar mais uma vez, que mal tem, não? Somos seres relacionais, somos os únicos na natureza que precisam de pessoas para nascer e para morrer, ficar sozinho, não nos é genuinamente confortável. Mas então questiono, de qual conforto estamos nos referindo?
Estar em um relacionamento é reconhecer que a outreidade de nós mesmos e dos Outros existe e que se faz necessário o respeito às bordas que nos delimitam e nos separam. A maioria das pessoas deseja ter um amor, uma companhia para usufruir de momentos de intimidade, de aprovação. Contudo, tornar-se dependente de relacionamentos, tornar-se dependente dos cônjuges, namoridos, namorados ou amantes, enfim, das suas presenças por se perceber não merecedor de amor e de ter suas necessidades atendidas não é natural nem saudável. Creio que muito dessa incessante procura pela Figura do Outro, por essa aprovação que carrega consigo rótulos de namorada e namorado, tem como pano de fundo, a insegurança emocional. O Outro tem tudo, Eu não tenho nada. A minha existência não é importante, se O Outro me negligencia e me abandona, eu abandono a mim mesma.
Nossa necessidade bloqueia a nossa visão, nos impede que vejamos o que de fato, existe: desejo, solidão, carência, paixão, ciúmes, inveja, recalques, companhia, desprezo, idealização, há amor?
Como cantou Lulu Santos, se amanhã não for nada disso, caberá só a mim esquecer e eu vou sobreviver, o que eu ganho, o que eu perco, ninguém precisa saber – em termos. Sim, você vai sobreviver. Sim, ninguém precisa saber. O que ganha – uma noite incrível de beijos, trocas de carícias, palavras sussurradas no calor da emoção ou no calor que vem com o vinho, com as chamas das velas ou com a temperatura das banheiras de hidromassagens. O que perde? bem, o que perde deixo com vocês…cada um sabe e absolutamente consegue listar a que preço vale estar com alguém no Dia dos Namorados. Alguns tostões, o tempo, a dignidade. Vale a pena, se sim, sob quais circunstâncias?
Feliz dia 12 de junho!
Com carinho,
Priscilla Freund