Muito têm-se falado sobre pandemia, mas hoje quero falar um pouco sobre o que levaremos para o nosso futuro destes momentos que para uns é confinamento – uma clausura, enquanto que para outros é a oportunidade de reaproximação com aqueles que por longos períodos temos deixado distantes de nós, de uma maneira ou outra.
Desde criança construímos, ou permitimos serem construídas, as nossas histórias também através de tradições, repetidas numa constante que nem nos damos conta, e quando olhamos para trás lá estão elas, nos causando saudades e nos lembrando de quem fomos um dia. Mas qual é a real intenção de manter-se uma tradição familiar viva nos lares? Qual sentido ela traz para a nossa vida? É bom ou ruim? Cabe a cada um de nós decidir…
Particularmente eu acredito que estas tradições são importantes para mostrar a cada membro da família como a nossa vida tem sido construída ao longo dos anos. É através de histórias ou estórias, contadas por nossos antepassados, que nos incluímos em nossos núcleos familiares e nos sentimos por vezes pertencentes àquelas famílias. Ou não!
Quando pequena, por volta dos meus sete anos de idade, era bastante natural nas tardes de domingo irmos visitar meus avós maternos na casa deles. Eu esperava ansiosamente por aquele dia. Sabia que encontrá-los “seria muito legal!”.
Hoje, no silêncio da minha casa, eu me pego por inúmeras vezes recordando o cheiro do café fresquinho, a banana frita com carinho, e a lembrança dos contos da vida no interior que os dois descreviam com muito prazer e orgulho. Cada palavra soava-me como quão fantástico eles eram, e quantas peripécias fizeram na vida, sem imaginar que tudo aquilo dito de maneira tão engraçada e peculiar fosse talvez um modo de lidar com uma realidade outrora tão dolorosa.
Na época do colégio, já mais crescida com uns quatorze anos, diariamente fazíamos ao menos uma refeição junto à minha mãe e meus irmãos. Meu pai trabalhava o dia inteiro e não podia estar conosco. Almoçar com a minha pequena família, além de alimentar o meu corpo com comida, preenchia o meu coração com sentimentos alegres, de amor e pertencimento.
Nós esperávamos a chegada de todos para começarmos a comer, porque sabíamos que nossa mãe estava nos aguardando depois da escola. Na minha opinião, era a melhor parte do meu dia: comíamos, conversávamos sobre as tarefas escolares, ríamos, limpávamos a cozinha. Simples assim!
Hoje em dia muitas tradições têm sido rompidas, seja por motivo de força maior – o isolamento social, seja por motivo de força individual – não há mais razão para vivificar certas tradições. Neste contexto, convivências tóxicas podem estar sendo extintas, enquanto que relações saudáveis estão (re)nascendo em novos lares.
Experiências nos trazem aprendizados. Aprendizados nos mostram valores. Valores nos levam a conhecer, ou talvez apenas reconhecer, quem somos e quem são aqueles que estão conosco em nossa caminhada. Encontros familiares têm um significado especial para mim, e não é apenas pelo fato de realizar uma rotina. Aprendi que não basta estar presente; é preciso ser presente, de coração e alma.
Escrito por,
Psicóloga Alkeandra Souza,
CRP 06/131906
Especialista em Neuropsicologia clínica aplicada à Reabilitação, pelo Centro de Estudo e Pesquisa Clínica Saúde (CEPCS-SP) e Pós-graduanda em Psicossomática Psicanalítica – Corpo e Clínica Contemporânea, pelo Instituto Sedes Sapientiae (SP). Psicóloga parceira da FREUND & PARTNERS desde 2018. Para contatar Alkeandra, deixe-nos uma mensagem ou entre em contato com ela diretamente no (+ 55 11) 99908-1917.